O caminho da fé

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Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho.
Faz os meus pés como os das cervas, e põe-me nas minhas alturas.
(Salmos 18:32,33)

A ação de Deus no homem caminha no sentido do aperfeiçoamento, em romper seus limites e seus defeitos e chegar às suas próprias “alturas”. A busca espiritual deve caminhar nesse sentido: em me tornar alguém melhor, um ser humano melhor, por consequência dessa busca e do que encontro nela.

Tem gente que diz que a fé é uma espécie de muleta onde homens fracos buscam força pra enfrentar suas vidas. Mas a fé deve ser um instrumento onde homens fracos buscam forças pra enfrentarem a si mesmos. Fé que não é utilizada pra enfrentar a si mesmo e promover aperfeiçoamento é no máximo crendice, superstição ou pensamento positivo.

Também tem gente que acha que a fé em Deus é uma ponte com atalho para alcançar dinheiro, riqueza, bens, status e poder. Nada esta mais na contra-mão do que o evangelho propõe. Em jesus vejo que a fé em Deus é uma ponte, mas uma ponte que me leva cada vez mais pra um encontro comigo mesmo e um encontro com Deus, encontro esse que se estabelece a cada encontro com o próximo e não em rituais ou reuniões num templo. No evangelho vejo que se você quer usar sua fé como moeda pra adquirir tudo o que quer, ao se encontrar com Jesus, sai triste (vide o q aconteceu com o Jovem Rico ao se encontrar com Jesus), pq percebe que não dá pra ter tudo o que quer e que pra entrar no Reino de Deus o lema é perder e doar-se, e não ganhar .

O caminho da fé é doloroso, é árduo e vai se estreitando a cada passo… e vai se estreitando porque a cada passo de fé que você dá você precisa abrir mão de um pouco mais dos seus interesses pessoais pra se aliar aos interesses de Deus no mundo; precisa perder um pouco mais de sua ganancia e pensar nos outros; precisa deixar mais do seu egoísmo e buscar por todos; precisa se livrar de algumas cargas existenciais pra caminhar mais leve… é estreito porque no final dele só cabe você, é um caminho em que na linha de chegada eu me encontro comigo, com minha vocação, descubro meu papel no mundo e como posso ser util na construção de um mundo melhor.

Pouca gente quer trilhar esse caminho. Dos que o começam poucos fazem as concessões e perdas necessárias ao longo do caminho. Dos que começam a perder, alguns voltam atras pra retomar o que deixaram com medo da vida tornar-se inviável sem seus penduricalhos. Mas os que prosseguem carregam uma verdade no andar, exalam tanta vida apesar das perdas, trazem no rosto um sorriso desconectado das contingências que dá gosto de ver e sentir. É gente que caminha rumo às suas próprias alturas e quanto mais sobe mais consegue se ver melhor e entender seu papel no mundo.

Isso não tem preço. Não tem como comprar. Não tem atalhos.

Tem que caminhar.
Só pela fé.
Só.
Fé.

Entre saber e viver

conteudo do evangelho de lucas

Se o evangelho não deixar de ser só uma informação ou um conhecimento intelectual pra se tornar vida na vida de quem crê ele só serve pra criar os seres humanos mais bizarros que eu conheço, verdadeiras anomalias existenciais. Ter o evangelho apenas como conhecimento ou leitura faz o cara se achar “costa quente” por conhecer a Deus mas, na prática, agir como um grande filho do inferno, sem amor, misericórdia, e envolvido em todo o tipo de falcatrua achando que Deus vai abençoá-lo pq lê e conhece o conteúdo de um livro sagrado. Vejo isso quase todos os dias.

Por isso, quando alguem perguntava a Jesus como era o reino de Deus, quem era Deus e como se tornar um discípulo ele sempre respondia com um convite: “Vem e vê…”, porque só a informação sem se transformar em vida deforma mais do que transforma.

Cuidemos para que nosso discurso e conhecimento teológico/evangelico não esteja quilometros a frente da nossa realidade e prática.

Que Deus nos livre de saber o evangelho sem vivê-lo!

As vozes em mim – a qual dou ouvidos?

ouvido

Ontem vivi uma cena que me fez pensar (e me faz pensar até agora). Não por ser inédita pra mim ou mesmo por sua pouca frequência, mas por minha reação a ela. No início da noite fomos interrompidos por tiros próximos à minha casa. Sem saber exatamente do que se tratava minha reação foi pegar meu filho no colo e correr com a esposa pra o que considerei ser o cômodo mais protegido da casa.

Não foi a primeira vez que vivi essa cena e nem foi das piores vezes. Mas vivê-la de novo me fez pensar em como reagir a ela. Num primeiro momento pensei: preciso trabalhar mais, dar mais um gás profissional pra tirar minha família dessa realidade (como se fosse possível fugir da violência em pleno Rio de Janeiro). Já imaginei possíveis lugares pra essa mudança, quais os custos e o quanto de trabalho (e dinheiro) excedente isso me exigiria; em pouquíssimos segundos fiz um mini planejamento pra minha fuga dessa realidade. Mas há uma voz que me perturba com alguma frequência. Não com a frequência necessária pra me fazer agir, mas frequente o bastante pra me fazer considerá-la. E essa voz “roubadora da paz” me faz propostas absurdas. Uma dessas propostas impensáveis é: por que ao invés de fugir dessa realidade você não tenta transformá-la? Porque ao invés de querer mudar só a sua realidade (fugindo dela) você não se torna um agente de mudança pra todos os outros que convivem na mesma região?

Felizmente (ou não), há outra voz (na verdade várias outras) contrapondo o que essa voz atabalhoada me propõe. Todas essas outras vozes trazem argumentos coerentes e muito racionais e, confesso, tem calado em mim essa voz subversiva que as vezes pretende se instaurar em mim. Essas outras vozes dizem que as coisas são assim, sempre foram assim e que não há como mudá-las. Me dizem que essa realidade é fruto de muitos problemas sociais, educacionais, financeiros e até mesmo espirituais, e que ninguém, muito menos alguém como eu tem envergadura moral pra tocar esses pontos, que dirá transformá-los. Dizem que essa realidade é patrocinada por gente que quer “vida fácil”, como se conviver com a dura realidade da fome, das drogas, da violência doméstica, do não acesso à saúde, educação e a sociedade como vista na TV fosse fácil. Essas vozes, astutamente, apelam pro meu bom senso, dizendo que não dá pra salvar a todos, e que cada um deve salvar a si e buscar sua mudança; e que não há sol pra todos e se não há pra todos tenho q garanti-lo pelo menos pros que eu amo, confinando o amor às tão mutáveis relações de convivência diária e aos laços sanguíneos.

Essas vozes também me pedem pra olhar pro lado. E ver como as pessoas estão presas nas suas buscas. Ver que cada um que também é vítima dessa realidade passa por ela inconscientemente, anestesiado pela busca de sua própria mudança ou pela realidade de se destacar nesse meio inóspito: preferem ser reis entre os pobres do que mais um entre a classe média; é como se me dissessem que minha busca de mudança seria solitária, já que cada um esta buscando o seu. E não é isso que eu também tenho feito insistentemente, contra o que meus olhos veem todos os dias e contra aquela voz perturbadora mas tão solitária em meio às outras vozes?

Da mesma forma, essas vozes às vezes parecem tomar meu corpo. Parecem ter poder sobre meus membros e músculos. Parece que são elas que viram meu pescoço contrariamente às realidade gritantes que vejo todos os dias. Ao uso abusivo de drogas, dissolução de famílias, miséria, condições indignas de saúde, saneamento e educação de crianças. Também são elas que povoam minha mente com lembranças do ultimo capítulo da novela, do resultado do ultimo jogo do meu time ou daquele filme da noite anterior, cada vez que tento usar minha mente pra buscar soluções pra esse quadro violentamente borrado de realidade que me salta aos olhos.

Confesso que é mais fácil dar crédito a essas vozes que me distraem e me mantém girando a roda do sistema. Mas tem sido cada vez mais difícil ignorar a voz solitária que me convida à mudança e à ação. Tenho me visto fazendo força pra não dar trela a essa voz e continuar minha vida mediana (medíocre), correndo atrás do pote de ouro no fim do arco-íris. Antes minha visão seletiva já tratava de eliminar da memória todas as imagens chocantes da realidade e de achar argumentos e respostas fáceis pra elas, mas agora, sabe-se lá por qual falha no sistema, meu “firewall social” foi invadido e um vírus transformador tenta se instaurar; esse vírus malicioso quer modificar toda a estrutura do meu sistema, me propondo novos valores, novas causas, novos objetivos, e uma nova atuação na vida, mas ele não tem noção do que isso pode me custar – e nem eu tenho toda essa noção.

Se não ficou claro, explicito que essas vozes são eu. Das mais subversivas às mais acomodadas todas são parte de mim. Vivo esse turbilhão conflituoso dentro de mim e tenho que escolher a que voz ouvir. Se ouço as vozes que me pedem pra manter as coisas como estão, pra continuar a vida, pra pensar primeiro em mim, ou se ouço a voz que me convida todos os dias ao desafio, à mudança, à atuação consciente, às consequência desconhecidas, ao risco e à morte.

A verdade que minha decisão não é só que voz seguir, mas que voz eu alimento mais no meu dia-a-dia (e que provavelmente encontrará eco em mim). Será que os conteúdos que consumo me propõe mais a mudança ou a acomodação? O que será que minhas leituras e conversas alimentam em mim? É bem verdade que somos bombardeamos e vitimizados todos os dias por uma enorme nuvem de promessas de crescimento, sucesso, conquista, consumo, diferenciação e ascensão. Mas como as nuvens do céu, essas também parecem espessas de longe mas não resistem ao toque e à proximidade da realidade. Nos forçam a acreditar que todos podem chegar lá. Que as condições são iguais pra todos e só não cresce quem não trabalha. Mas não precisa ser um gênio da matemática ou da sociologia pra saber que existem trade-offs. Pra existirem os ricos e que chegaram lá existem milhares que nunca chegarão lá, e pior, que pavimentarão a riqueza dos outros com a sua miséria. Ontem assisti ao filme “O Preço do Amanhã”, e numa das falas, um dos magnatas da sociedade diz que “pra uns serem imortais (recursos fartos) alguns precisam morrer (nenhum recurso)”, ao que o mocinho do filme responde: “não deveria haver ninguém imortal, nem ao custo de uma única vida”, e eis a realidade: o custo de manutenção do nosso sistema de consumo e foco no capital são vidas, muitas vidas. E qual voz me denuncia todo esse sistema injusto e me convida à subversão? A de Jesus, do evangelho… e quão pouco tempo eu dedico a ouvir essa voz!

Se toda essa profusão subversiva parece me dominar na hora em que encaro algumas realidades, eu uso todos os meus mecanismos de autodefesa pra freá-la e anestesiar-me pra continuar a vida feliz; basta 30 minutos de minha série de Tv favorita ou do jogo do meu time pra me fazer esquecer ou pelo menos sublimar tudo o que sou convidado a realizar e transformar.

Enquanto dá faço ouvido de mercador pras vozes que me confrontam. Mas temo pelo dia iminente em que não conseguirei fugir delas e não terei outra alternativa que não a ação. Não sei onde isso pode dar. Não sei do que terei que abrir mão (ou sei e por isso corro dessa voz). Não sei como começar, qual caminho de ação ou a que final isso me levará. Só sei que essa voz, para o bem ou o mal, fala cada vez mais auto em mim, e meus sistemas de distração estão se tornando obsoletos a ela. Mas como todo ser humano escravo do sistema prometo que vou tentar apagá-la, e quem sabe, não encontro o pote de ouro no fim do arco-íris e isso me faz mandar essa voz pro purgatório e me possibilita preenchê-la com todo o consumo que me for possível, tendo todo o mundo aos meu pés, ao alcance das mãos e ao pequeno custo de algo que parece ter cada vez menos valor se comparado a todas as promessas de poder e aquisição: a minha alma.

REVERENDÍSSIMO APÓSTOLO ATEU: Desgraça e ranger de dentes! – Caio Fabio

Você ouve o Evangelho de Jesus e se apaixona.
Assenta-se para ouvir.
Começa a ler.
Fascina-se com as promessas de resposta às orações.
Vê crescer em você uma imensa expectativa de ouvir a Voz e saber a Vontade Dele.
Alegra-se ao ver que Deus fala, que a Palavra é viva, e, também, que orações são de fato respondidas.

Mas… Então você começa a desejar crescer em Deus, mas, ao mesmo tempo, como todos os que você admira são pastores, evangelistas, líderes, missionários, cantores, etc. — surge em você a idéia de que crescimento somente acontece nas fronteiras do ministério e no convívio com a liderança.

Assim, o eixo da emoção da fé começa a mudar, e, devagar, a pessoa vai ficando cada vez mais desejosa de parecer-se com os que aparecem, e faz isso sem culpa, pois, de fato e sinceramente, a única coisa que a pessoa quer é fazer uma assimilação daquilo que ela, agora, entende como sendo o caminho visível e imitável da piedade.

Nesse ponto inicia-se o processo de esquizofrenização do ser devotado a crescer em Deus nos bastidores da suposta organização de Deus entre os homens: a igreja.
Então, devagar, você vai vendo que os seus “homens de Deus” são levianos, mentem, são egoístas, avarentos, cobiçosos por sórdida ganância, odiosos, invejosos, hipócritas, e, muitas vezes, até mafiosos, sendo que, em tal caso, a associação menos danosa de alguns é com a maçonaria.

Ora, gradualmente, depois de ter odiado por um tempo as coisas que veio a saber, você persiste no mesmo convívio; e, então, começa a se sentir melhor do que as outras pessoas do clube da maldade; e, por isso, o próximo passo será que você diga a si mesmo que tem crédito de coerência na vida, a fim de “pedir umas férias a Deus”, e, assim, dedicar-se, pelo menos como hobby, a algum pecado ou surto de capricho.

Quando você faz isto, sente o que Adão sentiu no Éden, e, assim, vendo-se nu, cobre-se, e, por causa disso, busca cobrir-se com as vestes convencionais, a saber: mentira, hipocrisia, performance, falsa humildade… Entretanto, mais que tudo, a tendência é que você se torne misericordioso com o pecado, embora não necessariamente com o pecador que não seja você.

Entretanto, aqui também pode surgir outro filho do povo do engano, que é aquele que, justamente porque já se sabe agora membro do clube dos que ele antes repudiava, decide agora disfarçar-se de hostil e acusador daquilo que ele mesmo, às ocultas, pratica; pois, assim, pela denúncia do tema, ganha um forte e poderoso álibi para os outros; embora ele mesmo cristalize-se na hipocrisia.

Ora, como neste ponto Deus está no exílio da vida da gente, o que fica é o poder das networks. E, também, muita dedicação à imagem pública, à comunicação e à autoproteção; enquanto você vai vivendo da máquina que à sua volta foi montada.
Então, quanto mais tudo funciona, mais distante de Deus você fica, e sem notar.
E mais: você começa a dizer para você mesmo que aquela vida com Deus de antes era coisa de criança, mas que agora, depois de ver como as coisas são, ainda assim você faz a Deus o favor de pregar o evangelho. E como você pensa que é isso que Deus quer (que se pregue o Evangelho, ou qualquer coisa que cite o nome “Jesus”), você julga que o crédito é seu justamente por você fazer o que Deus quer que se faça, mas que sem você Ele não faz ou faria. Desse modo, por razão de seu auto-engano, você começa a tornar-se a medida de todas as coisas para você mesmo, sem perceber que você está monstrificado, e isto enquanto é endeusado pelos pagãos que, de tão cegos, só enxergam as purpurinas das glórias de cultos de fumaça de gelo seco e de levitas angelicalmente erotizados, que se exibem meigamente como ninfos e ninfetas de um culto pagão estranhamente oferecido em nome de Jesus, e, em cujo espetáculo você seduz Deus para que lhe faça mais concessões, pois você prega; e, segundo você aprendeu, Deus tem delirium tremens quando ninguém prega o nome Dele no mundo.

Se você não sabia, saiba agora: Foi assim que você chegou até aqui onde agora, gloriosamente, se jacta de estar. E você passa a ser parte de tudo isso, e se justifica dizendo que seria pior sem a sua presença, pois você já não é como era antes, mas, pergunta você: “Quem é?” — e responde: “Eu pelo menos sei o que não é, e, estou aqui apenas para ver se mudo alguma coisa”.

Então, você prega em meio às piores contradições e sentimentos interiores, e as coisas acontecem, e isso faz com que você diga: “Deus é bom, pois, mesmo assim, cheio das concessões, Ele ainda me abençoa!”

Ora, neste dia, o antes singelo e alegre jovem crente entra no Templo dos Lobos vestidos de Ovelhas, e, sem propaganda, adere à maçonaria das ações secretas praticadas pelos membros do clube do sucesso ministerial.

Daí em diante ele é ateu e não sabe. Afinal, ele já é tal ateu que o nome de Deus é falado por ele sem que ele sequer perceba. Deus é oco e mais leve que o nada no coração desse um dia crente, mas que hoje é líder de crentes exatamente por já não crer em mais nada.

O casamento arruinado pela hipocrisia e a insinceridade. Então, com tanto assédio, esse ser um dia crente diz para si mesmo: “Sofro tanto. Está na hora de ser consolado por alguma irmã”.

E assim ele vai… Até que tem um harém.

O mesmo acontece com o dinheiro. Ele pensa: “Sem mim nada entraria aqui. Então, eu é que dou a eles e não eles a mim. É meu!”

Chega a hora em que você se levanta para pregar e o diabo senta para descansar; isto porque o diabo pensa: “Ele é meu orgulho! Representa-me muito bem. Com lobinhos assim eu poderia tirar férias!”
Então você prossegue. Vira bispo, apóstolo, primaz, pai-póstolo, Reverendíssimo Augustus, um César da Religião.

Cheio de altivez, de empáfia, de arroto.

Viram pastores de si mesmos, e, existem para o banquetear-se.
Quem não faz a viagem por essa vertente, em geral, ao passar pelos desapontamentos, se havia sido “ungido” e não pode mais voltar atrás, o que daí nasce é muita amargura e ressentimento em razão de que os que apareceram não foram eles, mas sim os “piores”. E ficam com raiva de Deus, e isto apenas por jamais terem tido a visão certa da vocação, que não é para o que é elevado entre os homens enquanto é abominável diante de Deus, mas para o oposto.

Esses que não viraram lobos vestidos se ovelhas tornaram-se ovelhinhas vestidas de coelhinhos ou de Barbies. Ou então se tornam poetas e menestréis da perplexidade humana, embora de Deus sintam, quando sentem, apenas saudades.
Não faça essa viagem. Ninguém escapa impune por andar nas trilhas desse enganado caminho.

O chamado à conversão em tais casos é um só:
Arrepende-te! Volta ao teu primeiro amor!
Enquanto é tempo!

Nele, que confirma o que digo como verdade do Evangelho e fato da existência,

Caio

Só o encontro com Jesus não basta

 

Hoje estava lendo o evangelho de Marcos e um ponto muito simples me chamou a atenção. Jairo, um dos caras grande na sinagoga vai atras de Jesus pedir que vá ao encontro de sua filha que esta muito doente. No meio do caminho encontram pessoas vindo da casa de Jairo dizendo que a menina ja esta morta e que Jesus não precisava mais ir, mas Jesus mantem a caminhada ja sabendo o que iria acontecer. Chegando lá, a casa estava cheia de curiosos, gente q queria ver o q estava acontecendo, amigos, vizinhos; ao chegar, Jesus pede q todos saiam e ficam apenas Jairo e sua esposa, a menina, e Jesus com alguns discipulos. Jesus toca na menina e a ordena que levante, o que acontece imediatamente. Após esse milagre ele faz uma consideração simples mas que me chama a atenção. Ele diz aos pais: “dêem a ela algo de comer”.

Isso é algo muito simples e até óbvio, mas olhando pro lado vejo q algumas vezes esse ponto é neglienciado. Vejo pessoas ao redor que tiveram um encontro com Jesus, receberam um toque, uma palavra de cura, salvação, milagre, mas após esse encontro acham que podem caminhar por si, sem sustento, sem alimento. O encontro com Jesus não nos torna auto-suficientes nem auto-subsistentes. A partir do encontro com Jesus, para se manter a nova vida oferecida por ele é necessario q nos alimentemos do que nos mantem vivo para essa nova realidade de vida. É imprescindivel nos mantermos alimentados após o toque de Jesus.

Canso de ver pessoas que encontraram Jesus no caminho mas que não se alimentam dele, de sua palavra, de relacionamentos que vêm dele. E assim como a filha de Jairo precisava se alimentar mesmo depois do milagre e da ressurreição por Jesus, tem gente morrendo por inanição (falta de alimento) mesmo após o milagre. Gente que definha nessa nova vida de Deus porque acha que só o encontro bastou. Gente desnutrida espiritualmente e sem força espiritual pq acha que só ir a cultos 2 vezes por semana (e as vezes sem nem receber alimento de qualidade nessas ocasiões) é garantia de sucesso, poder e unção. Qualquer um que pesquisa superficialmente sobre alimentação de qualidade vai ver que pra ter uma vida mais saudável são recomendáveis 6 refeições diárias. Isso mesmo! 6 refeições diárias! Como alguem pode achar q vai se manter de pé se alimentando 2 vezes por semana??? Além disso, são 6 pequenas refeições diárias, pequenas porções de alimento. Faça um teste: tente se alimentar uma vez por semana. Nesse dia vc pode comer tudo o q quiser na quantidade máxima que aguentar, ja que só comerá na próxima semana e veja se será saudável… veja se sobreviverá! Da mesma forma, não adianta buscar cultos e congressos onde se pretende receber e se alimentar muito de Deus se o próximo alimento só será daqui a uma semana, um mês, um ano! Alimente-se um pouco de cada vez, com porções que consegue mastigar bem e digerir. Mantenha seu corpo em funcionamento.

As vezes tenho a impressão de que o q a gente que é caminhar sozinho mesmo. A gente quer ir num mega congresso, ouvir um pastor-celebridade pregar, ouvir uma musica comovente pelo cara do momento e dai caminharmos sozinhos, com nossas próprias pernas, como se o congresso fosse tudo o q precisamos, e depois daquela carga de poder, não precisamos mais de oração, contato com a palavra, exercicio de amor, solidariedade, encontros de qualidade… nem de Deus! Podemos seguir sozinhos, cheios da unção, cuspindo fogo no capeta. É importante lembrar que essa foi a proposta da serpente no Éden: ser como Deus, não precisar dele mas ser um igual a Ele. A proposta era que ao comermos do fruto seriamos auto-suficientes, nossos próprios deuses. Essa proposta que parece superficial e antiquada tem sido uma de nossas maiores tentações só que com novas roupagens, “unções especiais”, argumentos coerentes e formas.

Pensando nisso tudo lembro de Jesus falando:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda.
Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado.
Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim.
“Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.
Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados.”
João 15:1-6

Quem pensa q pode dar frutos e produzir coisas relevantes sem estar na videira-Jesus, não percebe mas só esta secando. Por fora pode estar bonito, mas os frutos começam a morrer, não permanecem. “Nenhum ramo pode dar fruto por si só”, essa é a constatação. Mas se permanecemos na videira, recebendo alimento de Deus, buscando comer do céu, damos frutos e frutos que permanecem.

Você se percebe como alguem que teve um encontro com Jesus? Foi alcançado pelo milagre? Encontrou um abrigo? Recebeu um toque especial? NÃO PARE POR AI! Prossiga, busque se manter vivo e se alimente de Deus. O encontro com Deus é só o inicio, o quanto nos alimentamos dele é o que define até onde iremos chegar.

O poder da palavra

Esses dias fazendo uma leitura da Biblia parei no trecho do Sermão da montanha em que Jesus vem reposicionando algumas leis e mandamentos judeus. Parei nos versiculos 21 a 26 de Mateus 5, quando Jesus fala sobre o poder das palavras e sobre relacionamentos. Nesse trecho Jesus fala que se vc for ofertar (realizar alguma atividade religiosa e espiritual) e souber q alguem tem algum ressentimento contra você (não você contra ele, mas ele contra você), vc deve deixar sua oferta de lado (parar suas atividades) e consertar a situação para então retomar seu culto. Lendo esse trecho comecei a olhar pra mim, identificar em mim coisas que não deveriam estar lá.

Vi que estava mantendo um sentimento ruim relacionado à certas pessoas, vi que dentro de mim mágoas (más águas) estavam se mantendo. Identifiquei um pouco de raiva de alguns, um pouco de inveja de outras situações, um sentimento de satisfação com alguns tropeços de outros e vi q não era pra ser assim. Sempre tive facilidade de perdoar mas percebi que determinadas situações estavam ficando tempo demais dentro de mim, tempo além daquele necessario pra um minimo de cicatrização e cura, e decidi mudar. Após ler essa fala de Jesus e me enxergar pedi a Deus que arrancasse aquilo, que me ajudasse a esquecer aaquelas questões, perdoar a quem devia, ter coragem para pedir perdão, enfim, tentei fazer minha parte pra mudar.

Não quero aqui falar de quão legal ou certinho sou, mas atestar o poder da palavra. Atestar a relevância do contato com Deus através de Jesus, da bíblia e de outros livros que nos ponham em contato conosco.

Esses dias li um texto do Ed Rene Kivitz a quem muito admiro e ele falava dos efeitos terapêuticos do contato com o divino. De que efeitos 10 minutos de oração, 20 de leitura da biblia, 30 de amor ao próximo e etc, poderiam operar em nós. E sou eu um confirmador dessa questão. Percebi em mim uma operação através desse contato. Me vi frente a um espelho que me apontava minhas falhas e senti o desejo de saná-las. E é essa a relevância do contato com o evangelho. Serve pra nos levar à luz e operar mudanças em nós quando o abraçamos.

Se vc sabe que precisa mudar (e quem de nós não precisa?), tenha a coragem de se expor a Deus, ao evangelho, a Jesus, à palavra. Tenha coragem e ousadia de se enfrentar, pq o evangelho é uma novidade que coloca nosso modelo de vida em xeque. Faça isso e veja a mudança ocorrendo de dentro pra fora, a Metanóia, o crescimento. Quer mudar? Tome umas doses do evangelho e perceba como ele é um grande antídoto pra nos libertar do sistema consumista e desumano que vivemos.

 

Mas tem tantas pessoas que vão à igreja, se dizem crentes e continuam da mesma forma?

 

Perceba que não falei nada sobre ir á igreja. Falei sobre o encontro com Deus, com o evangelho, com Jesus. Falo da leitura simples e desmetodizada dos evangelhos, com coração aberto, sem freios ou paradigmas religiosos, só a leitura. Falei do contato com o próximo como exercício de amor, desses encontros como um encontro com o proprio Deus.

Se tenho uma dica prática é essa: leia os 4 evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) com o coração aberto e sem aquele pensamento, que as vezes me atrapalha, de ler um livro sagrado. Leia de modo simples, tranquilo, e veja Jesus. Suas ações, suas palavras, como lidava com as coisas e as pessoas, o que era sua prioridade, com quem se relacionava, a quem se opunha. E se tomar gosto siga pelos outros livros do novo testamento, sempre com o coração aberto e simples. E depois se olhe. Se veja no espelho e veja se é o mesmo. Veja se a palavra não modificou você, te tornou alguem melhor, quem sabe alguem mais parecido com Cristo, alguem mais feliz, mais cheio de amor. Faça esse teste, inclua isso na sua “dieta existencial” e veja se isso não te torna alguem mais forte, mais saudável, mais humano, mais gente. Se dê essa chance, vc pode ficar abismado com as mudanças.

 

Pra que serve o Evangelho?

Um tempo atrás estava em casa vendo tv e vi uma notícia q me chamou a atenção: um grupo de detentos de um presídio não lembro aonde decidiram fazer um dia de jejum… o objetivo é que o alimento não utilizado nesse dia de Jejum fosse doado às pessoas desabrigadas de Santa Catarina quando ocorreu aquele desastre. Vendo isso pensei em como as coisas são.. como as aparências enganam… as pessoas que são vistas como miseráveis, bandidos, marginais, assassinos, escória da sociedade, nesse momento de catástrofe, se mostraram mais solidárias do q muitos de nós (nos quais eu me incluo)… pessoas q segundo alguns mereciam morrer, se mostraram mais dignas da vida do q muitas de nós, por usarem suas vidas para prestar assistência a quem precisa mais. E por que isso?… talvez pq a circunstância que os envolve sirva pra forçá-los a entrar em contato consigo… percebam o quão necessitados de misericórdia são… percebam são seres sociais e q pra ter uma vida q faça sentido, ela só pode ocorrer com a interação com o próximo.

Com isso me peguei pensando no potencial “ser solidário” que existe dentro de nós e no potencial egoísta q temos dentro… Jesus sempre apontou pra essas dualidades e dicotomias q temos dentro… falando sobre morte e vida, salvação e perdição, luz e trevas… Ele sabe que nós trazemos dentro, elementos q podem nos transformar em “Madres Teresas de Calcutá” ou em “Nardonis”… somos um oceano de infinitas possibilidades… e o q nos faz ser uma coisa ou outra? Na minha opinião, acho que a Vida… entenda como vida, nossa criação, nosso conjunto de relações (familiares, amizades, companheiros de trabalho, escola e etc), nossas experiências (produto de nossos relacionamentos com pessoas e circunstâncias)… esse conjunto de coisas formam nossa vida… e é essa vida q nos faz ser quem somos.

Não que amizades ou famílias digam exatamente quem somos… mas elas nos fornecem experiência e ensinamentos que nos possibilitam escolhas: posso escolher ser igual a eles ou ser diferente… ser eu… é por isso q muitos filhos de assassinos não o são, pq as experiências e ensinamentos q tiveram, os mostraram q não é bom ser assassino.

Você deve estar se perguntando: onde ele quer chegar?

Quero falar sobre nossos instintos humanos e o quanto a mensagem do evangelho pode influenciá-los.

Que nós temos potencial para sermos qualquer coisa disso já sabemos… mas pq fazemos determinadas escolhas? pq escolhemos ser mais solidários ou mais egoístas?

Essas escolhas são patrocinadas pela medida de contato q temos conosco… quanto menos nos conhecemos, mais somos egoístas, pq não conhecendo nossas limitações e dependências, achamos que somos hiper-especiais e que o mundo deve girar ao nosso redor… por outro lado, quanto mais nos conhecemos, percebemos q somos extremamente necessitados do outro e isso nos torna mais solidários… nesse ponto é que entra o evangelho.

Jesus embora fosse um judeu religioso, não promoveu religião… ele promovia valores que, postos em prática, nos tornam pessoas melhores… mostrava através de milagres e serviço que devemos prestar assistência aos mais pobres e desafortunados… q uma vida digna, inclui o outro… q um projeto de vida de sucesso, tem o outro como parte extremamente importante, ja que só com o contato com o outro somos plenificados, pq vendo o outro, vemos a nós mesmos e enxergando suas limitações, vislumbramos nossas fraquezas e alimentamos nossa solidariedade com esse “outro-eu”.

Se o evangelho não serve pra nos colocar em contato com quem somos, ele não serve pra nada… um evangelho q só serve pra nos mostrar a divindade a quem solicitar nossos desejos egoístas é só mais uma religião no sentido mais pejorativo possível… uma boa nova q de boa não tem nada a não ser aquilo q diga respeito à satisfação de nossos desejos mais egoístas e q de nova num tem nada pq buscar desejos individuais sempre foi o objetivo do ser humano, vide o caos em q estamos, é na verdade uma tolice velha…

Se o evangelho não serve para nos apontar na direção da escolha pela solidariedade, se torna só mais uma forma de saciar nossos desejos pessoais, como nosso emprego e patrimonio… uma filosofia religiosa que não incentiva o bem comunitário ao invés do bem pessoal é apenas mais um negócio onde clientes ávidos por satisfazer necessidades buscam formas para isso pagando um preço viável: orações, cultos, ajuntamentos, ofertas, assiduidade, participação em atividades do templo, submissão aos detentores do conhecimento q me possibilita satisfazer minhas necessidades e etc… é só mais um sistema de barganha.

Se o evangelho não serve pra gerar bem comunitário é só mais uma “herbalife religiosa”, onde todo mundo diz q esta se ajudando mas na verdade um quer os clientes do outro e a grana do outro… um quer o q o outro tem, e q o motiva a frequência nos templos é a crença de q se Deus fez tal coisa por fulano, vai fazer por mim tbm.

O evangelho, pra mim, é o conhecimento-conteúdo de informações q me capacita a entrar em contato comigo mesmo e com isso ser melhor pra mim e pro próximo… pq buscar um bom relacionamento com Deus sem buscá-lo tbm com o próximo, é uma tentativa picareta de enrolar a Deus, declarando q Deus q está longe e q pode me oferecer algo material, eu consigo suportar, mas o cara chato q só sabe me pedir e fica no meu pé todo dia, quero mais é q se dane… por isso, a todos q pediam pra ser discípulos de Jesus, ele falava pra negar-se (deixar o egosímo, os desejos individualistas), tomar sua cruz (reconhecer suas privações e incapacidades) e seguí-lo, demonstrando que antes de seguirmos a Ele, temos q ter esse encontro com o q somos dentro e q não há como encontrá-lo sem nos encontrarmos.

Confesso q estou cansado do “evangelho das igrejas evangélicas”, q só apresentam Deus como barganhador de benções… um Deus q implora e mendiga nossa atenção, oração e louvores e nos dá bençãos em troca disso; um evangelho q só serve pra nos transformar em “raça eleita”, “povo santo”, “geração escolhida”, no discurso mais elitista e exclusivista possível, afinal nós somos “filhos do rei” e os ímpios (leia-se não crentes) são apenas “criaturas”, são mundanos, dignos de nossa pena e orações maquiadas de solidariedade mas q na verdade são hipócritas e buscam o status de parecer alguem q se preocupa com os outros. Esse evangelho não quero mais… se isso é ser evangélico, declaro aqui publicamente, que não sou mais evangélico… não tenho parte com o q estão fazendo por aí com o nome de evangelho… tenho um nome a zelar e não quero vê-lo junto das imundícies e excrementos produzidos pelo que se dizem evangélicos mas q são camuflados  com “perfume francês” religioso, característico daqueles q não tomam banho mas usam o perfume pra enganar trouxa.

Isso pode parecer chocante ou exagerado mas é assim mesmo q tem q ser… afinal, Paulo chamava o evangelho de “escândalo da cruz”… e o q de escandaloso ainda sobra ao evangelho q vemos?… acho q o único escandalo são os dólares da bíblia, as mansões com direito a réplica do jardim de Jerusalem, os patrimonios gigantescos do líderes evangélicos… o escandalo caracterizado pela subversão de valores, onde os q tem nada tem se não compartilham o q tem, e os q não tem, apesar de hostilizados diariamente, são os beneficiários diretos do reino dos céus… escandalo q prega q todos estão destituídos da glória de Deus por pecarem, mas q o sangue de Cristo e sua vida de sacrificio e servidão, pagaram essa dívida cósmica e nos possibilitam liberdade das cadeias q nos prendiam. Esse é o escandalo q deve marcar o evangelho e se assim não o é mais, ou o atual evangelho deixou de ser Evangelho ou evangélicos esqueceram o q é o Evangelho mas mantêm a nomenclatura pq isso lhes beneficia de alguma forma… mas pra mim, só busco no evangelho, o benefício q advem da Cruz, q me redime e reconecta a Deus.. todo benefício diferente desse é malefício travestido de bem.

Espero que um dia os q se dizem evangélicos conheçam o Evangelho e vejam q sua utilidade só se dá no serviço ao próximo, afinal Tiago fala no primeiro capítulo de sua carta que o q ouve o evangelho e não o pratica, é como alguém q se vê no espelho, contempla sua imagem, mas logo ao sair do espelho esquece sua aparência, e mais, que a religião (religação) a Deus é prestar a assistência aos órfãos e viúvas e não se corromper com o sistema do mundo… que o evangelho não sirva apenas pra nos permitir rompantes de contato com quem somos q logo são esquecidos quando somos expostos ao q existe fora de nós, mas que nos aproxime da Luz que vindo ao mundo iluminou e ilumina a todos os homens, na medida em que mostra quem nós somos e produz em nós a necessidade de ser com alguém, pq nem Jesus, a encarnação de Deus, “foi” sozinho.